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Limeira,19/07/2025

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Entre o céu e a terra, que se constitua um gestor humanitário

O Malawi também é aqui, virando apenas uma via que não pode ter dois rumos diferentes de olhar e condução

IA do Wilson
Entre o céu e a terra, que se constitua um gestor humanitário


No arquétipo do pai, o fundador da psicologia analítica Carl Jung explicitou que “o pai anda por aí, fala com os outros homens, caça, viaja, faz guerra, espalha seu mau humor qual tempestade e, sem muito refletir, muda a situação toda num piscar de olhos. Ele é a guerra e a arma, a causa de todas as mudanças. É o touro provocado para a violência ou para a preguiça apática. É a imagem de todas as forças elementares, benéficas ou prejudiciais”.

Arthur Colman e Libby Colman, no livro “O Pai - Mitologia e Reinterpretação dos Arquétipos”, propõem novos conceitos com base em Jung: o pai-céu e o pai-terra. O pai-céu tem domínio sobre o pensamento e a estrutura social do mundo, não tem fácil acesso à expressões emocionais e passa pouco tempo com os filhos. Se caracteriza pelas qualidades de ser separador, forasteiro e líder e construtor de uma cultura e um pensamento. Por vezes, por conta da idealização não-contemplada nos anseios dos filhos na sua autoprojeção e carência, essa função de proteção que antes era exercida por este pai-céu passa a ser assumida pelo Estado.

Já o pai-terra é um exemplo alternativo que tem genitor nutridor, com base em antigas imagens lendárias e míticas, com a função de proporcionar à prole a confiança e segurança necessárias ao crescimento tanto em família quanto fora dela, objetivando independência e construção de identidade própria.

Qual o real patrimônio?

Com isso em foco, a questão envolvendo a nova portaria da União cedendo parte do Horto Florestal ao Assentamento Elizabeth Teixeira precisa, sim, ser analisada sob a ótica jurídica e que o município aja como achar que deve agir nessa esfera, mas que não perca o aspecto primordial que gere qualquer administração pública: o respeito à figura humana. 

São brasileiros natos, nascidos na República Federativa do Brasil. E nossa república rege-se pelo princípio da prevalência dos direitos humanos, da solução pacífica dos conflitos, do repúdio ao terrorismo e ao racismo. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. A casa é asilo inviolável do indivíduo e a propriedade atenderá a sua função social.

Nada do que escrevi acima foi tirado da minha cabeça, isso está fielmente previsto na nossa Constituição Federal, que já resguarda em seu primeiro artigo que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e tem como fundamento a soberania, mas logo na sequência traz a cidadania e a dignidade da pessoa humana intrinsecamente conectada. 

Logo em seu terceiro artigo, preza ainda pela construção de uma sociedade justa e solidária, com foco na erradicação da pobreza e a marginalização, além da redução das desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Todo gestor público é regido por esses preceitos. Todos, sem exceção. Prefeito Murilo Félix entre eles, inclusive. Se é Limeira acima de tudo quando convém, que se respeite o Brasil acima de todos quando é obrigatório o respeito hierárquico da real soberania nacional. Limeira só poderá ser forte de novo quando entender seu papel na distribuição da república federativa.

Quem é o real inimigo?

Há de se ter cuidado com a forma como discursos e ações em nome dessa soberania possam afrontar a dignidade da pessoa humana e estimular a marginalização e o preconceito. Nosso alcaide flerta demais com esses limites e não poderá alegar isenção ou irresponsabilidade caso pessoas façam uso dessas palavras para legitimar e justificar ações violentas e atrozes contra famílias que, pela sua simples existência afrontam, hordas sedentas por uma justiça formada com base em preceitos ideológicos e não humanitários.

Pela manhã, Murilo anunciou um empreendimento milionário do ramo hoteleiro, buscando recepcionar não só o aporte financeiro que a futura construção trará, mas abrir a cidade para visitação e hospedagens. No mesmo dia, condena e chama de arbitrária a nova cessão do espaço que foi feita no início do mês - e que só viralizou após reportagem do Cidadania em Ação destacar o assunto esta semana. 

O hotel é o céu almejado e que enobrece, mas o assentamento é a terra real e que padece.

Murilo dá entrevistas, faz live nas suas redes sociais e vai até o local juntamente com sua Guarda Civil Municipal praticar alarmismos social, terrorismo midiático e estímulo ao separatismo humano. A reação é imediata: os comentários abaixo foram recortados de publicações em diversas redes sociais de setores da mídia que divulgaram o tema essa semana (alguns extraídos no perfil do prefeito). 

Sem edições, estão como foram verbalizados por limeirenses estimulados pela narrativa adotada tanto por segmentos da comunicação quanto pelo próprio Prada:

  • “Mete bala”
  • “Limeira vai virar uma cidade de terror, ninguém saia à noite pois vai ficar mais violenta do que já está!”
  • “Que não falte munição para o cidadão de bem”
  • “Cadê a equipe do choque para por o pessoal do MST para andar”
  • “Bomba de gás lacrimogêneo e cacetete… “
  • “Juntar o povo em geral e colocar eles pra correr”
  • “Solta a Glock na nossa mão”
  • ”Se eles invadirem o horto vamos todos nós se juntar e desce a madeira nesses baderneiros”
  • “É só abrir a boca e chamar os limerenses, pra descer em peso”
  • “Que não falte chumbo pra guarda, polícia de Limeira, e quem tem perna,corra ou deita”
  • “Tem que levar um porrete e por todos pra fora de Limeira”
  • “Deixa montar a taca fogo em tudo quem estiver dentro” 
  • “Bala neles”
  • “Tira de lá na bala, quero ver não sair”

Qual o fantasma a ser exorcizado?

A África é logo ali, assim verbalizou Vanucci há quase 20 anos, mesmo período em que o Assentamento Elizabeth Teixeira aqui está. Questões humanitárias quebram barreiras e precisam romper vestígios de perseguições históricas que sobrepõem a lógica de conduta nesse momento. 

A reparação dos erros cometidos pelos modelos políticos em vigência é necessária não apenas em continentes vizinhos, mas dentro de nossa própria esfera de atuação primeiro. Em sua frase mais conhecida, Jung dizia:

"Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana". 

Nenhuma psiquê em conflito por disputas políticas e familiares pode sobrepor esse olhar: o de ser um humano cuidando de outros seres humanos.



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